30.4.14

Naturalidades



Os olhares trocaram-se e a explosão aconteceu. Corações acelerados. Toda ela controlando-se para não tremer, natural parecer. Ele nervoso, lutava para que não se notasse a rigidez dos movimentos que se teimavam em desgovernar.

Sorrisos constrangidos. Olhares de soslaio. Sentados quase lado a lado, não trocavam palavra. Mania. Esta mania de se querer ser natural quando por dentro tudo não é menos que um tremor de terra. Tsunami, invadido no peito com toda a força. Descontrolo. E no entanto, querem parecer naturais.

Ah pobres. Estes corações apaixonados num instante. Pobres deles que não se podem mostrar como se sentem. Não é transparente, e aparentemente nada se passa.

Pára de te mexer, ela vai perceber que estás nervoso.

Mais nervoso que isto é impossível, e ela repara. Nota que de momentos a momentos os seus olhos se desviam para os dela, mas nada faz, finge indiferença, quer parecer natural, e convence-se que o está a ser.

Cruza a perna, pára de mexer no cabelo sua parva. Ele vai perceber.

Claro que percebe, ele nota que ela não pára de ajeitar o cabelo, como se tivesse de estar tudo no lugar certo. Cruza e descruza as pernas, e os seus olhos teimam em voltar-se para os dele.

Repetidamente cruzam-se, os olhares. Sorriem das piadas que se contam em paralelo. Não sabem a piada, mas riem-se na mesma, têm de parecer naturais...

Mas de natural nada há, não trocam uma única palavra que denuncie o que estão a sentir, mas os seus olhos já gritam de um para o outro, dele para ela, o quanto sentem vontade de se aproximar.

Ela sabe. Ele sabe.

1 comment:

  1. R: Obrigada és sempre uma querida!
    Muitos beijinhos

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