Hoje acordei com sede. Sede de nós, quando nos encontrávamos às escondidas, para que não nos julgassem, para que não nos acusassem daquilo que nós éramos.
Acordei com o corpo dormente. Passado tanto tempo ainda te ressaco, ressaca que faz doer o corpo, mas ainda mais a alma. A dor da alma é a pior de todas.
Continua a custar respirar, como se tivesse fumado 50 cigarros de uma vez. O peito ainda se me aperta. E neste aperto é que acordei. Nos lençóis ensopados naquilo que foi o nosso encontro.
Hoje acordei recortada, com a falta do teu corpo no meu, com a marca detalhada das tuas mãos em cada centímetro de pele por onde passaram.
Que faço com isto. E agora, que faço eu com isto. Mastigo. Engulo. Cuspo. Regurgito.
Retorno. Devolvo-te. Entrego-te isto que me deixaste, não quero nem preciso.
Fica, podes voltar a precisar de a usar. Esta droga não se esgota, estás à vontade. Eu é que não a quero mais, já bebi o suficiente. Já tive a pedra suficiente para que me baste.
Vou-me. A reabilitação está concluída. Porque a sede com que me acordaste, já não existe mais.
Matei-a para sempre.
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