26.8.14

A Viagem - Quinta




Uma dor forte no peito. Aquela dor. Um aperto. Doía-lhe todo ser.

Madrinha. Ele já sabe.

Madalena, minha querida. Já sabias que ia ser doloroso. Não podias fazer nada.

Sim, eu sei. Ele vai ficar tão magoado comigo.

Não estava sob teu poder decidires isso. Os conselheiros disseram que se ele soubesse antes de inicar a viagem, vocês não entrariam. Como combinamos com o António, ele só lhe daria a carta depois de inicar o processo de esquecimento, assim ele não terá qualquer hipótese de recuar. Tem fé.

Ele não vai aceitar...

Enquanto Madalena tentava aquietar a dor que sentia, entre alguma culpa por não poder ter contado a Teodoro o que se passara na reunião com os conselheiros…

Nãããããoooo. Como. Eu não aceito isto. Não pode.

Calma. Já sabes que ás vezes os planos mudam.

Não desta forma. Não quero entrar. Vamos voltar para trás. Quero ver a Madalena. Ela não podia aceitar isto.

Não podes voltar atrás agora. Primeiro. Se formos agora para trás, vamos apanhar os seres desprovidos de luz, e não queremo isso pois não. Há caminhos que não se podem fazer de volta. Depois de dares entrada, faremos um caminho de retorno diferente, temos algumas missões a cumprir para que não se desperdice a disponibilidade das pessoas deste grupo.

Mas eu não posso aceit....

Seguuundooo.O teu processo de esquecimento já foi iniciado. Já recebeste dois ciclos de passes para que o processo se desenvolvesse convenientemente. Não podes quebrar isso agora. Ser-te-ia extremamente prejudicial. E para além disso, há muita gente envolvida neste projecto. Tens pessoas à tua espera. Preparadas para a tua entrada. Entrada essa, que também faz parte dos planos delas. Não podes largar tudo e todos assim. Já sabes como é que funciona.

António. Como é que isto pode acontecer. Onde está o livre arbítrio. Nós temos uma palavra a dizer sobre isto. Eu, tenho uma palavra a dizer sobre isto. Agora entendo todo aquele nervosismo. Era normal ficarmos agitados antes destas viagens, mas ela estava diferente. Agora é que percebi.

Teodoro, acalma-te amigo. Bebe esta água. Vai-te fazer bem. Está magnetisada.

Teodoro bebeu a água, um tanto ao quanto contrariado. Acalmou-se. Acabou por adormecer, enquanto o curador se preparava para mais um ciclo de passes. Da próxima vez que acordasse, já não se lembraria da carta que lera, as suas lembranças começariam a ficar turvas, e a sua energia começaria a adensar-se para que ficasse pronto. Os Lobos já tinham tudo pronto para continuarem com o transporte, quando ele perdesse a consciência por completo.

Madrinha, tenho algum receio que a minha carta vá prejudicar o processo de esquecimento.

Não te preocupes Lena. Está tudo como devia estar. Está tudo no devido lugar.

Espero que sim madrinha, espero que sim.

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