O coração batia com tanta força, que parecia
que lhe ia rasgar o peito, partir as costelas e estourar no ar, mesmo em frente
dela. Respirou fundo para entender se ainda estaria a dormir. Não. Estava
acordada, tinha sido um sonho. Um sonho não. O ar espesso do quarto confirmava-lhe
a presença de um pesadelo. Daqueles pesadelos que não são, nem pesadelos, nem
sonhos. São algo real que acontece em algum lugar suspenso.
O quarto continuava às escuras, tudo estava
coberto em veludo negro. O quarto continuava sem um único som, tudo era envolvência
de um abismo de silêncio. Foi só um pesadelo, pensou.
Tentou lembrar-se. Era confuso. O coração
parecia que respondia por si, qual animal assustado. Disparou novamente.
No silêncio, uma respiração. Não era a sua.
Algo a observava. Não se conseguia mover. O corpo permanecia rígido. Pedra. Ela
ordenava, incessantemente, mas não havia movimento.
De novo aquela respiração. De novo aquela
coisa. Agora movia-se. Ela sentia o movimento pendular daquela presença que
respirava cada vez mais alto.
Continuava a ordenar ao corpo que se movesse.
Abriu a boca, tentou falar. Nada. Queria gritar. Não saíu um único som. Ela
fazia-o com toda a força que tinha. Nada saía. Exausta. Toda ela exausta. E
aquela coisa continuava a aproximar-se. Uma escuridão viscosa, buraco negro em
movimento. Na sua direcção. Outra vez. E outra. A respiração. O coração
acelerado, acelerou ainda mais. E mais. Ela já não conseguia ouvir mais nada a
não ser aquela respiração. Aquela coisa quase a tocar-lhe no rosto. O desespero
de não conseguir mover-se, de não conseguir expelir num único som. E de repente…
Abriu os olhos. A respiração ofegante. Nada no
quarto. Na cortina podia ver refletida a pequena luz, mortiça, que atravessava
as pequenas fissuras da persiana. Do outro lado da parede, o ressonar de um
vizinho com peso a mais. Mexeu-se finalmente. Alívio.
Esperou
uns minutos. Nada aconteceu.
Respirou
fundo para entender se ainda estaria a dormir. Não. Estava acordada, tinha sido
um sonho. Um sonho não. Um pesadelo.
Voltou a
respirar fundo. Esticou o braço, ligou a luz do candeeiro, olhou para o lado.
Não estava
sozinha.
No comments:
Post a Comment