18.3.15

Minutos Submersos #1


O coração batia com tanta força, que parecia que lhe ia rasgar o peito, partir as costelas e estourar no ar, mesmo em frente dela. Respirou fundo para entender se ainda estaria a dormir. Não. Estava acordada, tinha sido um sonho. Um sonho não. O ar espesso do quarto confirmava-lhe a presença de um pesadelo. Daqueles pesadelos que não são, nem pesadelos, nem sonhos. São algo real que acontece em algum lugar suspenso.

O quarto continuava às escuras, tudo estava coberto em veludo negro. O quarto continuava sem um único som, tudo era envolvência de um abismo de silêncio. Foi só um pesadelo, pensou.

Tentou lembrar-se. Era confuso. O coração parecia que respondia por si, qual animal assustado. Disparou novamente.

No silêncio, uma respiração. Não era a sua. Algo a observava. Não se conseguia mover. O corpo permanecia rígido. Pedra. Ela ordenava, incessantemente, mas não havia movimento.

De novo aquela respiração. De novo aquela coisa. Agora movia-se. Ela sentia o movimento pendular daquela presença que respirava cada vez mais alto.

Continuava a ordenar ao corpo que se movesse. Abriu a boca, tentou falar. Nada. Queria gritar. Não saíu um único som. Ela fazia-o com toda a força que tinha. Nada saía. Exausta. Toda ela exausta. E aquela coisa continuava a aproximar-se. Uma escuridão viscosa, buraco negro em movimento. Na sua direcção. Outra vez. E outra. A respiração. O coração acelerado, acelerou ainda mais. E mais. Ela já não conseguia ouvir mais nada a não ser aquela respiração. Aquela coisa quase a tocar-lhe no rosto. O desespero de não conseguir mover-se, de não conseguir expelir num único som. E de repente…

Abriu os olhos. A respiração ofegante. Nada no quarto. Na cortina podia ver refletida a pequena luz, mortiça, que atravessava as pequenas fissuras da persiana. Do outro lado da parede, o ressonar de um vizinho com peso a mais. Mexeu-se finalmente. Alívio.

Esperou uns minutos. Nada aconteceu.

Respirou fundo para entender se ainda estaria a dormir. Não. Estava acordada, tinha sido um sonho. Um sonho não. Um pesadelo.

Voltou a respirar fundo. Esticou o braço, ligou a luz do candeeiro, olhou para o lado.


Não estava sozinha. 





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