15.7.15

A Viagem - Nona - A menina dança

A música apetecia, toda ela lhe reagia. Ele olhava-a, tentando inspirar coragem. Avançou.


A menina dança. Perguntou.


Ela acenou com um sorriso tímido, as bochechas rosadas. E foram os dois. Sentir a música. Deixar que ela os controlasse.


Ele agarrou-a gentilmente, mas com firmeza. Ela nem teve tempo de reagir, já estava de face encostada ao seu peito, quase lhe ouvindo os batimentos cardíacos, apesar do volume a que tocavam a melodia. Fechou os olhos e deixou-se levar naquela viagem. Viagem infinita, quisesse ela que fosse.


Também ele os fechou, os seus olhos.


Oh avô, e depois o que aconteceu.


Bom, depois começamos a ver-nos quase todos os dias. Sempre às escondidas, mas acompanhados, naquela altura, estar junto de uma rapariga sem ela estar acompanhada por alguém mais velho, era uma falta de respeito tremendo.


A sério. Que engraçado.


A Mirinha, que era a dama de companhia dela, estava sempre presente, e ajudava-nos. Até que um dia tive de ganhar coragem e ir pedir autorização para a namorar, e mostrar que era moço sério e que pretendia casamento, naquela altura era o pai quem decidia, e tinha de se fazer um pedido formal e mostrar que era um homem de bem.


Quando tentei falar com o pai dela, fiquei a saber que ela já tinha pretendente, e ainda nem sabia, a pobre. Não pude fazer nada, o pai dela era uma pessoa muito severa, demasiado poderoso. Ameaçou que me matava a mim e à minha família se eu tentasse dizer-lhe, ou se teimasse em encontrar-me com ela.


Então, e o que fez avô.


Não podia por a vida da minha família em risco. Ainda pensei em fugir com ela para bem longe. Naquela época eram normais as viagens para o Brasil, mas se eu fugisse com ela, o resto da minha família continuava a correr perigo, então tive de tomar uma das decisões mais difíceis da minha vida.


Partir sozinho.

2 comments:

  1. Replies
    1. Ás vezes os finais que parecem tristes, são apenas o começo de algo incrível ;)

      a planta precisa de morrer para a semente poder germinar não é mesmo?!

      ..é tudo uma questão de mudares de prespectiva :)

      Beijinhos

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