Estou presa no linear da expressão, estou noutra dimensão.
Qual animal disforme que me olha e acompanha nesta angústia de me tentar libertar destes grilhões sentimentais? Qual besta que me olha com com esses olhos de desespero perdido? Qual palavra que disseste e desfizeste todo o monumental castelo por nós construído, ficou tudo perdido...
Estou. Fiquei desfasada da realidade, que violenta e lentamente me espanca, com pancadas doces, ténues pinceladas nos dias que passam taciturnos, com passos de desespero, perdidos na imensidão dos relógios controladores, ditadores das horas e das dores...
Estou presa ao passado, já tão pensado, revisto, analisado.
Demasiado triste, por todas as tristezas juntas, por todas as situações que gota a gota vão formando este oceano de preocupações, salpicado de esperanças frustradas...
Estou presa. Prisioneira de mim mesma, desta alma "pegagenta" e viscosa que me faz arrastar pelos momentos, que me obriga a reviver todas as palavras, todos os locais, todas as outras vidas já vividas e revividas...
Estou presa nesta desvairada atitude de te querer sem saber, desta compreensão lenta de inteligência apagada, presa neste buraco negro que me consome a cada dia, a cada hora, cada segundo; sugada em mim mesma, implodida, perdida no que não sei dizer, no que não sei explicar, no que não quero sentir, onde não quero ficar...
E no final de tudo isto? Vejo a expressão de esperança, nos olhos de quem a procura..
E então a vida torna-se divina, mágica, apetecida como nunca! Trás um novo alento, um novo impulso, que te diz "Vai em frente, não te deixes ficar enterrada na banalidade desses momentos tão mesquinhos, tão incontroláveis, de desprezo intrínceco...
E entao tudo é mais belo, mais transparente, mais fácil, mais apetecido, querido! Fica-se com a vontade de voar, de ir mais longe, e saboreia-se esse gostinho tão delicioso, tão doce... E pensa-se nas possibilidades infinitas de rematar aquilo que parecia perdido para sempre, de voltar a uma vida que se julgava perdida, descontrolada...
É então que se pensa que realmente existe Deus, e que tudo faz sentido com Ele e com o seu Espírito de amor, que esta esperança maluca, desvairada, tem o seu toque de realidade e possibilidade...
É então que o que parece impossível ganha um pouquinho de magia e torna-se tão possível como o próprio respirar...
Deus!
ReplyDeleteComo pode, tão elevado sentimento ter-nos como qualquer "Prisão" possa nos ter?
Que tão sofrido canto é este, como o canto de alguém no desterro de toda uma existência?
Quem ouvirá esses rumores provocados nas duras paredes de tal masmorra?
E Deus! É esta alma que aqui canta, que aqui espera por um encontro num outro mundo, "Lá" onde e de onde tudo se espera.
É "Lá", Senhor, também a tua morada?
É lá que se encontrarão, por fim, todas as almas naufragadas em dores estranhas, recolhidas pela barca imensa da esperança?
Se for, reserva a esta alma, o melhor dos teus cantinhos, Senhor.