Quero escrever, quero escrever e não me sai nada por estes dedos mortos de cansaço. Quero contar-te tantas coisas, falar-te do meu mundo, e as palavras recusam-se a escreverem-se, querem ficar juntinhas no aconchego do pensamento, na verdade das lembranças, nas fantasias mais deliciosas…
Quero dizer tudo, e não consigo dizer nada, tudo o que se escreve corre para o papel porque não tem importância, aquilo que deveria aqui estar não vem, recusa-se a mexer-se…
Então limito-me a escrever banalidades, para saciar esta fome de te falar, de te ter um pouquinho mais perto, limito-me a deixar que estas palavras gastas e sujas, quase sem significado de tanto serem ditas, fiquem por aqui e se deixem ser lidas…
Talvez invente algumas novas, frescas, com vontade de serem lidas, não como estas, que mesmo se deixando serem usadas, têm preguiça de se moverem para aqui, e que quando são lidas, soam a nada, porque já quase nada transportam com elas.
Quero pintar uma tela com palavras, só para te poder mostrar o meu mundo, só para poderes mergulhar nele. Quero fazer um quadro infinito de ocasiões, momentos, trivialidades… com as sensações que sentimos juntos, com os segundos a correrem demasiado depressa para poderem ser entendidos, com as horas a parecerem minutos desprendidos de qualquer compromisso, que desfilaram na nossa frente sem o mínimo pudor…
Quero ter palavras para falar desse azul que te acompanha, mas elas não existem ainda. Quero ter lembrança da tua alma, mas o meu corpo é demasiado fraco para aguentar a sua magnitude. Quero ter olhos para te ver, mas o meu castanho é esbatido. Quero ter pernas para correr para ti, mas elas são tão pequenas que mal consigo caminhar na tua direcção...
Uma palavra eu sei que existe, e nunca se vai cansar de ser escrita, lida, dita, gritada… sem perder qualquer significado, ganhando sempre um novo valor, e essa é com certeza a palavra Amor, que me vai sempre fazer lembrar de ti, mesmo que apenas com o carinho da lembrança de um sonho que vivemos, numa outra vida, numa outra realidade, onde tudo era possível e onde tudo continuará a poder ser realizado…
Mas que belo devaneio! :)
ReplyDeleteNão percebo devaneios, pois que devaneios são apenas desvarios.
ReplyDeletePercebo, sim, o canto sem lamentos de uma alma poeta, repleta, que cria mundos, oferta mundos feitos por palavras, numa torrente incessante de sentimentos belos, às vezes torturantes, até mesmo ondulantes, pois que assim somos, uma desconcertante via que nunca se realiza.