Eda saiu à rua, e o cheiro de pão quente invadiu-lhe as narinas, respirou fundo e deixou que a saliva lhe inundasse a boca. Era uma manhã ensolarada, daquelas manhãs mornas de luz e de som. As peixeiras da ribeira já se ouviam lá ao fundo ao pé do rio. Desceu a rua até à padaria da Dona Jacinta.
Bom dia menina, o mesmo de sempre.
Sim Dona Jacinta, o mesmo, obrigada.
Andou desaparecida, já andavamos a comentar o que é que se teria passado, a menina avisa sempre quando vai de férias.
É verdade, desta vez foi um bocado à pressa, não tive quase tempo para fazer as malas.
Ah, pois. A Jucefina não se calou estes dias todos a dizer que já a tinham raptado. Esta Jucefina e as histórias é com ela, a menina já sabe que ela é uma língua comprida, aquela dali não diz uma frase sem acrescentar alguma coisa. Mas como eu não engravido pelos ouvidos não acreditei nela, e o certo é que a menina está aqui, normalzinha como sempre.
Eda sorriu levemente, pagou o pão, e saiu. Na verdade, não tinha ido de férias, a sua estadia no hospital tinha durado mais do que esperava, mas não queria contar pormenores, que a coscuvelhice era o mote do dia, e ela não estava para aí virada, nem tanto nem tão pouco.
Eda, porque é que fizeste aquilo.
Não sei, não me lembro bem do que aconteceu.
Não te lembras, tu tentaste afogar-te rapariga. No meio da noite, com um mar bravo, e tu enfiaste-te por lá dentro. Ainda bateste contra as rochas. A tua sorte foi teres sido cuspida para a praia. Foste encontrada por um pescador, que te ajudou.
Sim, tenho uma vaga ideia.
Marejaram-lhe os olhos e ainda quase não tinha chegado a casa. Meteu as chaves na porta e entrou, já não via nada a não ser um mar na sua frente, e sentia a cara regada de lágrimas. Pousou o pão na mesa da sala, e foi buscar a carta.
A carta.
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