1.10.14

Voyeur





Estavas ali. A luz do candeeiro de rua iluminava-te. Quase como que numa denuncia anónima, acusava a tua presença. 

Fumavas calmamente. E eu observava-te de longe, enquanto encostavas mais uma vez nesses lábios carnudos, a cigarrilha. Sim. Porque tu só fumas cigarrilhas. Eu sei. Eu reparo em tudo sabes. Tudo o que é de ti eu guardo na memória.

Lá fora, a rua continuava deserta. E tu, debaixo daquela luz. Parecia que esperavas alguém, mas não. Estavas. Só. Sempre gostaste de estar assim. Sozinha na noite.

Queria aproximar-me. Mas não queria quebrar aquela visão de ti tão deslumbrante. Era capaz de ficar horas assim, apenas  a observar-te debaixo dessa luz.

E o silêncio. E o resto de toda a noite continuava negra.

Apenas tu.

A cigarrilha.

E a luz do candeeiro.

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