25.9.13

Memórias



"Cuida bem de ti e da tua vida, não olhes para trás, e nunca te arrependas de nada."

A cara já estava inundada há muito tempo, mesmo antes de ter aberto novamente aquela carta, ela já chorava deseperada, era a terceira vez que lia aquelas palavras, e de cada vez que os seus olhos a percorriam era como se ela estivesse ao lado dela a falar-lhe.

Como é que me pôde escapar, as irmãs esconderam-me mas eu sabia de tudo, como é que me pôde escapar...

Não se conseguia conter, as imagens do que tinha acontecido vinham à sua mente vezes sem conta, e ela soluçava...

trrrr.....trrrrrr.... a campainha da porta tocou. Eda limpou o rosto o melhor que conseguiu, olhou no espelho e torceu o nariz ao ver os olhos inchados do outro lado, colocou uns óculos de sol para disfarçar, desceu as escadas. 

Xavier.

Olá querida. Eda! Fofa, não me digas que te esqueceste de mim, pelo aspeto das tuas roupas parece que não vamos fazer nada mesmo, não é sua preguiçosa.

Eda esboçou um sorriso meio forçado.

Entra Xavier, hoje não estou com disposição, preciso de te contar umas coisas.

Olha lá, só agora é que reparei, se não vamos sair para que é que são esses óculos de sol.

Ela tirou os oculos e no mesmo instante ouviu-se um gritinho de horror.

Valha-me deus mulher, o que é que aconteceu para estares com esses olhos inchados dessa maneira. Quem foi o estúpido. Diz-me que eu parto-lhe as trombas.

Não é nada disso. Até preferia que fosse... tenho muitas coisas para te contar Xavier...

Ai, estás a deixar-me nervoso. O que é que se passa.

Vamos subir, preciso de desabafar. Já ficas a saber.

Claro querida, conta-me tudo. Já sabes que estou aqui do teu lado para o que der e vier.

Subiram as escadas, foram para o sofá da sala. O sol batia pela janela e reflectia-se por toda a divisão, deixando um tom dourado no ar, ficava tudo com um ar ainda mais confortável.

Senta-te, vou só buscar uma coisa.

Quando voltou trazia um papel na mão, era a carta. Sentou-se a tremer, tremia porque ia falar pela primeira vez sobre tudo o que tinha acontecido.

Ai, vá lá filha, abre essa matraca, estás a deixar-me morto de curiosidade para saber o que é que se passa.

Os olhos de Eda, voltaram a marejar.

Oh Eda, respira fundo querida, temos muito tempo, desculpa, começas quando estiveres preparada.

Ela respirou fundo enquanto pensava, Tenho de falar, tenho de deitar isto tudo para fora.

Xavier.

Sim.

Eu lembrei-me. De tudo.

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